Costumamos intercambiar as expressões “bom senso” e “senso comum” na língua portuguesa. Em inglês acredito que a tradução para as duas variantes seja “common sense”, o que já indica a ideia de associar razoabilidade a uma conduta comum, coletiva. Mas eu discordo: a diferenciação entre os dois termos se faz necessária. Nem sempre o que é atribuído ao senso comum pode ser visto como bom ou desejável.
Usemos o campo da ciência como exemplo. É evidente que em vários momentos da história o que era visto como senso comum foi refutado pelo conhecimento científico. “A Terra é plana”, “nosso planeta é o centro” etc., são afirmações que hoje chegam a parecer ridículas, mas já foram o senso comum de uma época.
Também pode-se discutir a fragilidade desse conhecimento que vem do senso comum, coletivo, quando levamos em conta que muito do que conhecemos hoje em dia advém do trabalho e perseverança de alguns, mesmo quando criticados pela maioria. Em outras palavras: pessoas notáveis, proporcionalmente uma minoria, são responsáveis pelos maiores avanços em todos os campos de conhecimento disponíveis atualmente. Daí faço uma distinção: eles não compartilharam de algumas crenças do senso comum, mas cultivaram bom senso. A história assim provou.
Não menosprezo a importância de um senso calcado na experiência coletiva, que molda hábitos e costumes. Muitas vezes ele se apresenta como bom senso. (Pense nas sugestões, nos cuidados e na sabedoria de sua avó como exemplo simplificador, mas nem por isso menos verdadeiro). Só repito: nem sempre bom senso e senso comum são a mesma coisa, e por vezes uma diferenciação entre as duas expressões é imprescindível, salutar para quem busca aprender a verdade das coisas, com suas nuances e gradações inerentes a qualquer conhecimento minimamente complexo.