Não sei ao certo porque as obras de Fiódor Dostoiévski e Friedrich Nietzsche me interessam tanto. Deve haver vários motivos (conhecidos e desconhecidos, superficiais e profundos…) para a minha afinidade com esses dois autores. Não sabendo mensurar todos, vou me ater a dois.
Primeiramente, enxergo os dois como combatentes do niilismo e do totalitarismo, cada um a sua maneira: Nietzsche com sua filosofia exaltada; Dostoiévski com sua ficção febril. Mesmo sendo dois pensadores bem diferentes, são considerados existencialistas por sua postura perante as questões filosóficas do final do século XIX.
Podem ser lidos, de certa forma, como visionários de várias atrocidades que ocorreram décadas após seus escritos — os crimes cometidos nos regimes totalitários e os conflitos armados, especialmente as duas grandes guerras, são os maiores exemplos dos horrores que acometeram o século XX.
Já era evidente para os dois que os avanços tecnológicos e científicos não necessariamente trariam uma qualidade de vida melhor sem um ethos, uma ética que a sustentasse, uma vez que os pilares morais que vinham da antiguidade, incluindo os que vinham da crença judaico-cristã, estavam se esfacelando frente à modernidade e seu progresso. O filósofo alemão acreditava ser possível a construção de novos valores que dessem conta dos desafios que estavam se formando em sua época; já o escritor russo defendia o reforço da ortodoxia cristã para combater os desvios da modernidade.
Também os vejo como “psicólogos” — a ideia não é original e nem minha —, ou melhor dizendo, estudiosos da alma. Ao notar que a razão não é suficiente para explicar a história e nem o comportamento humano, eles trazem à superfície a noção de que a racionalidade não dá conta da complexidade que está presente na mente e nas ações humanas. Foram profundos conhecedores da psique humana.
P.S.: Após ler inúmeros livros de C. S. Lewis e começar a entrar em contato com a obra de G. K. Chesterton, percebi que minha afinidade com os pensamentos de Nietzsche era mais superficial do que eu supunha. Hoje em dia me aproximo mais das ideias defendidas pelos filósofos, intelectuais e escritores cristãos.