É evidente a dificuldade que alguns integrantes da geração nascida no fim do século passado têm em se frustrar. Pior, carregam o sentimento de que são especiais e de que o mundo lhes deve algo. A arrogância que esses jovens adultos, por vezes, ostentam me deixa abismado.
Fiz parte desse grupo: são os “eleitos” que nunca são reconhecidos — o fato de não terem feito ou conquistado nada de relevante não é levado em conta na hora de dar vazão aos seus pensamentos megalomaníacos. Não têm gratidão por todo o esforço e dedicação empenhados pelos antepassados para que tivessem uma das vidas mais fáceis e confortáveis da história humana. O fácil acesso a bens materiais é um bom exemplo dessa comodidade contemporânea.
Contudo, é possível que em algum momento pode acontecer de “a ficha cair” e de finalmente se darem conta do quanto estavam equivocados, perdidos e com valores distorcidos. Tive sorte, isso aconteceu comigo.
O perigo está em continuar se enganando, mas dessa vez em chave inversa, no sentido oposto. Explico: se antes a pessoa se enxergava com brio e orgulho exacerbados, agora ela cultiva desprezo e asco por si mesma quando vê sua vida em retrospectiva.
Considerar-se ridículo e sofrer intensamente com suas pregressas atitudes soberbas, ao ponto de se sentir desprezível e vil, também é uma forma de vaidade. É enaltecer-se com a própria punição. Fiódor Pavlovitch, personagem de Os irmãos Karamázov, romance de Dostoiévski, é um bom exemplo de quem se humilha e se autodeprecia perante os outros na tentativa de aumentar a estima que dele possam ter.
Ao fim deste processo de recusa aos extremos — arrogância de um lado e desprezo do outro —, o que imagino ser próprio de alguém que amadureceu é a justa medida; não se sentir maior do que realmente é, nem se martirizar e se diminuir em demasia. É estar em relativa paz consigo mesmo (paz absoluta é uma utopia e indesejável para quem está vivo e em constante movimento) e, porque não, voltar ou começar a se ver com carinho.