Há um tipo específico de jornalismo que vem sendo usado cada vez mais nos meios de comunicação, principalmente na grande mídia. Estou falando do jornalismo declaratório. Sim, esse que dá destaque ao que as pessoas dizem. Não importa se o que é dito é exagero, disparate ou mesmo mentira. O que vale é polemizar. (Observação: para que não haja dúvida, o título empregado neste texto é uma provocação.)
É pilar do nosso jornalismo contemporâneo usar a declaração de uma fonte — aspas*, no jargão da profissão — para “ilustrar” um fato narrado, corroborar uma argumentação, ou para dar voz às partes interessadas. O que pode ter de errado nisso? Nada, se for usado com moderação. Mas não é o que ocorre atualmente. Somos bombardeados com manchetes do tipo “Fulano disse que…”, “Beltrano revela que…” Como já diziam nossos antepassados: que maçada!
Dá-se tanto destaque ao que autoridades, especialistas, famosos, celebridades, pseudo-celebridades, aspirantes a celebridade dizem como se realmente fossem de interesse público. Quando os “declaradores” são políticos, o discurso usado mais confunde do que esclarece o que de fato querem dizer. E vamos combinar: é difícil acreditar no que nos dizem, já que vivem se contradizendo. Estamos criando personalidades que se preocupam mais em se manifestar por meio de chavões retóricos do que em ser realmente claros.
O que fazer? Sinceramente, não sei, já que boa parte do conteúdo noticioso é desenvolvido a partir do que as “pessoas importantes” pronunciam ou deixam de pronunciar. Só espero um pouco de bom senso e critério ao divulgar frases que, em boa parte das vezes, são só ganchos** para notícias tão vazias e irrelevantes quanto as próprias aspas.
* Declaração de uma fonte que aparece na matéria jornalística entre aspas.
**Característica ou informação que faz um fato ter um potencial jornalístico para publicação. Em um sentido figurado, é o que fisga o leitor, telespectador, ouvinte etc.