Lembro-me que, quando era criança, tinha um fascínio por crescer, trabalhar em um escritório, ter minha mesa e meus pertences; enfim, todo aquele universo da vida adulta com seus afazeres a cumprir me instigava. Claro, existem vários tipos de trabalho e, curiosamente, acabei por exercer o tipo de ocupação que admirava quando mais novo.
Ao me aproximar da idade em que realizaria esse desejo, a vontade já não era a mesma; ou, pelo menos, não era do mesmo tipo que a de criança. Acabei me habituando com a rotina do ambiente de trabalho, e os objetos, outrora tão admirados e cobiçados, tornaram-se comuns, banais.
O curioso é que em alguns momentos, inesperados, a magia da infância surpreendentemente reaparece, e fico contente, alegre até, ao perceber que não estou indiferente aos meus livros, meu computador, meus papéis avulsos com anotações, minha mesa e todo o resto que compõe meu habitat de trabalho.
Às vezes, principalmente quando é hora de começar uma nova tarefa, digo aos meus colegas: “Vamos brincar de trabalhar!” Não estou menosprezando ou debochando nossa ocupação, mas lembrando e revivendo, de uma perspectiva madura, o sentimento lúdico originado na infância do quanto pode ser prazeroso o ato de trabalhar. Assumo que faço parte do grupo que acredita que “o trabalho dignifica o homem”. Vamos brincar?