Bons costumes

parlamento-ingles

Quando mais novo, achava ridículo o apego à tradição e aos bons costumes. Fui mais um entre tantos outros jovens, rebeldes sem causa, que não sabem nada, mas acreditam que sabem tudo. Com o passar do tempo, ao adquirir idade e experiência, ficou claro pra mim que só existe sociedade ou civilização por causa do cultivo de hábitos e valores que perduram.

Dito isso, faço uma ressalva: nem toda tradição é boa. Porém, não há como governar, se relacionar, ou mesmo sobreviver sem alguma tradição ou costume a nos escorar. Para ilustrar o raciocínio, foquemos em nossa classe parlamentar, responsável por criar leis.

Em sessões no Congresso Nacional, ou mesmo nas assembleias legislativas e câmaras de vereadores, ouve-se constante e tediosamente: “Vossa Excelência isso, Vossa Excelência aquilo…”, chegando ao ponto de, quando os ânimos estão exaltados, depararmo-nos com pérolas do tipo: “Vossa Excelência é um tremendo filho da p…!”

Pois bem, considero uma aberração esse uso frequente de uma forma de tratamento afetada, que supostamente indica apreço e respeito pelo decoro parlamentar, junto de xingamentos e impropérios dos mais variados calibres. Sei que, às vezes, só um palavrão exprime com concisão e proporcionalidade o que queremos dizer. Entretanto, vejo a necessidade de que o discurso parlamentar seja adequado ao lugar onde é proferido.

Em embates de membros do Poder Legislativo, um simples “senhor” ou “senhora” já daria conta da cortesia e da decência que as casas legislativas exigem de seus parlamentares. Além disso, palavrões e xingamentos deveriam ser evitados ao máximo durante as sessões. Em outras palavras: deve-se moderar o que é dito, sem ser pedante ou grosseiro. Reforçando o imaginário comum: deveriam se comportar com a elegância e educação de damas e cavalheiros ingleses.

Claro, é bem provável que essa mistura de termos artificias, como “Vossa Excelência”, com linguajar rude deve ser consequência de nossa cultura, que reverencia pomposamente qualquer autoridade e peca nos quesitos mais básicos de civilidade e etiqueta, mas isso já é assunto para outro ensaio…

Para terminar com o sentimento de dever cumprido, trago um aforismo que sintetiza e complementa, ao mesmo tempo, o que penso: “A moderação deve nortear nossos pensamentos, ações e discursos, mas, assim como tudo na vida, também deve ser usada com moderação”.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s