Meu interesse por livros começou na infância. Os primeiros que ganhei de que tenho recordação eram ilustrados e vinham numa caixa, com fitas cassetes. Para cada brochura de capa colorida com contos de fadas dentro, havia um áudio correspondente. Acho que me foram dados de presente por uma de minhas tias, mas não tenho certeza (devia ter perguntado antes de deitar essas linhas). Ganhei os ditos-cujos quando era muito novo; só vim a usufruir deles de verdade anos depois.
Já o primeiro livro que quis voluntariamente foi adquirido numa feira de livros da escola quando eu tinha sete ou oito anos. Era de detetive; ou melhor, era um romance policial, daqueles que você tem que abrir as páginas finais com uma a régua para saber a solução do caso. Assumo que minha curiosidade foi maior que meu hábito de leitura: acabei lendo o final sem me inteirar direito da história. Arrisco a dizer que meu amor pelos livros começou antes pelo objeto físico — portador de histórias e conhecimento que não tinha — do que pela leitura em si.
Outro livro de que tenho uma vívida memória chamava-se “Não pise na bola”, de Richard Simonetti (o autor achei no Google mesmo). Costumava ir ao centro espírita perto de casa com a minha mãe para tomar passe por causa da minha asma (na época chamávamos bronquite, mas mais de um médico já me corrigiu; agora aprendi). Em uma dessas visitas avistei o livro e pedi à Suzana, minha progenitora, que o comprasse. Ela consentiu. Ele, o livro, acabou sendo meu companheiro por um tempo. Andava comigo pra lá e pra cá. Trazia dicas no formato pergunta e resposta sobre temas como amor, sexo, gravidez, aborto, casamento, família, vícios, suicídio, vocação profissional, mediunidade etc.
Até o fim da adolescência, minhas leituras eram esporádicas. Só comecei a me tornar um heavy user de livros a partir do ensino médio e daí não parei mais. Gostava bastante das aulas de literatura e me arriscava a escrever alguns poemas — bem ruins, mas isso não importa.
Hoje, ler pra mim é quase como uma segunda natureza, não consigo me imaginar não lendo. Tenho a necessidade de ter livros por perto. Já até refleti se minha leitura, por vezes compulsiva, e meu consumo de livros não podiam ter se tornado um vício. Percebi que era possível; por isso tomei a iniciativa de escolher melhor o que ler. Minha dieta é variada. Contudo, o que me dou ao trabalho de ler tem que me nutrir de alguma forma, senão descarto. Evito consumir livros de péssima qualidade para não ter um mal-estar. Nem tudo que posso ler me convém ler.
Meu amor aos livros foi se formando com os anos. Já passamos por poucas e boas. Altos e baixos. Brigas e reconciliações. Atualmente nosso relacionamento é mais sereno e maduro. De uma coisa eu sei: se puder escolher, no dia em que me for, gostaria da presença de meus entes queridos na hora da partida: minha esposa, meu filho, quem mais puder me visitar…, inclusive de um dos livros que eu vier a escrever e publicar.
Refleti, e trago um questionamento. Se for para partir com um compêndio nas mãos, não é melhor que seja com o mais importante já escrito, aquele que é o mais lido e traduzido no mundo? Acredito que vocês sabem de que livro estou falando…