A Paixão de Vincent van Gogh

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Atualmente, Vincent van Gogh é cultuado no mundo inteiro, com seus quadros sendo comercializados na casa dos milhões. Porém, também é de conhecimento geral que, durante praticamente toda sua fase adulta, o pintor holandês viveu em dificuldades financeiras, contando inclusive com ajuda de seu irmão mais novo, Theodorus. De todos os quadros que Vincent pintou, apenas um — “A Vinha Encarnada” ou “Vinhedo Vermelho” dependendo da tradução — foi vendido enquanto ele ainda estava vivo.

Há várias publicações biográficas disponíveis no mercado para quem tem curiosidade pela vida do artista. Além disso, cartas que costumava enviar ao seu amado irmão Theo foram compiladas e publicadas. Nessas missivas fraternais, é possível saber o que Vincent pensava e buscava em sua arte, assim como conhecer a estreita relação que havia entre os irmãos. São uma sugestão de leitura para aqueles que se encantam por cartas ou estudam o gênero epistolar.

Mesmo com este tão fácil acesso à sua história de vida, marcada por privações, doença mental, automutilação — há controvérsia sobre quem de fato cortou sua orelha — e suicídio, acho curioso que pouco se fale sobre o caráter religioso (ou espiritual) de Van Gogh. Antes de se tornar pintor, Vincent tentou várias carreiras. Dentre elas, foi missionário em Borinage, região belga conhecida por suas minas de carvão. Queria pregar aos mineiros.

Os trechos a seguir foram coletados da correspondência enviada a Theo na época em que Vincent ainda se dedicava a evangelizar os trabalhadores das minas. A propósito, foi em Borinage que Vincent van Gogh decidiu se dedicar à arte, com o mesmo ardor e empenho que vinha empregando em sua breve iniciativa missionária:

“… e Deus quer que, imitando Cristo, o homem leve uma vida humilde sobre a Terra, não aspirando coisas elevadas, mas dobrando-se à humildade, aprendendo no Evangelho a ser doce e humilde de coração.” (Petit Wasmes, 26 de dezembro de 1878, Borinage-Hainaut.)

“Procure entender a fundo o que dizem os grandes artistas, os verdadeiros artistas, em suas obras-primas, e encontrará Deus nelas. Um o terá dito ou escrito num livro, outro, num quadro.” (Julho de 1880)

Além de sua determinação e seu esforço contínuo em dominar as técnicas de desenho e pintura para se tornar um artista, Van Gogh nutria uma afeição pelos menos afortunados — sua correspondência biográfica nos dá evidências disso. Não sei se por escolha ou falta dela, Vincent tinha compaixão pelos pobres e miseráveis; padecia com eles física e espiritualmente.

Diria que, a seu modo, o tão afamado pintor, que hoje em dia figura entre as personalidades de maior destaque da história da arte nos últimos duzentos anos — com direito à exposição imersiva no Atelier des Lumières, em Paris —, também experimentou uma vida espiritual profunda, cheia de sofrimento; ou seja, também vivenciou sua Paixão.

 

 

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