Como utilizo o metrô pelo menos cinco dias por semana, é comum me deparar com algum fato curioso ou inusitado, desde que eu preste atenção a ele. Hoje, 8 de abril, foi dia de encontrar um dos passageiros portando e lendo o mesmo livro que eu: Grande sertão: veredas. Não é exatamente o mesmo porque o meu é a edição de estudante, com capa vermelha; a dele, emprestada — ele me confidenciou —, é a de capa roxa (clássica para mim, pois foi a primeira que conheci). Ambas são da Nova Fronteira.
Nosso diálogo foi curto e protocolar. Cada um mostrou seu livro e trocamos apenas algumas palavras. Porém, saber que alguém próximo de mim, ao menos naquele momento, escolheu aproveitar seu tempo de transporte público para ler a mesma obra que eu, deixou-me contente. Poderíamos ter esticado a conversa? Poderíamos. Mas achei que alongar o papo seria atrapalhar nosso intuito inicial (de ler), meu e do meu interlocutor, um moço mais ou menos da minha idade, ou até mais jovem, de óculos e barba escanhoada.
Este ano é importante para a obra de João Guimarães Rosa: escritor, médico e diplomata com conhecimento em várias línguas. Além do lançamento de uma nova edição de Grande sertão pela Companhia das Letras, com artigos sobre o romance e outros extras, outros livros do autor também serão republicados por outras editoras; Sagarana, por exemplo, será lançado pela Global.
Vou fazer uma confidência: também tenho a edição de Grande sertão de capa roxa; assim como a vermelha amarronzada, ou marrom avermelhada, de Primeiras estórias; e uma das edições mais recentes de Estas estórias, todas da Nova Fronteira. Talvez adquira a mais nova publicação da Cia. das Letras. Desta forma, o romance narrado em primeira pessoa, em que Riobaldo conta sua própria história, poderá ser um dos livros de que mais terei exemplares.
Dedico as palavras finais de Grande sertão: veredas, considerado por muitos a obra-prima de Guimarães Rosa, ao moço do metrô — companheiro de leitura — e a todos que me leem: “Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano. Travessia.” Leiam o livro e embarquem nesta jornada também