Desde a adolescência, venho tentando elencar quais os escritores brasileiros mais importantes para minha formação literária. Se for para formar uma trindade, Machado de Assis e Guimarães Rosa são duas pontas que sempre compõe a trinca; só o terceiro elemento vem variando com os anos.
A minha confissão não é assumir que há um elo mais fraco, que pode se alterar dependendo da época de vida, mas que a ponta preferida pode ter mudado. Antes diria, sem nem pestanejar, que Joaquim Maria viria primeiro; João em segundo; e algum outro a seguir. Hoje, revejo e admito: atualmente, Guimarães é meu novo preferido. Por ora, pelo menos.
Não me entendam mal: ainda admiro por demais a literatura machadiana. E é capaz que eu continue a revisitá-la com muito mais frequência do que os livros do médico e diplomata mineiro. Entretanto, os textos rosianos têm algo que as obras do Bruxo do Cosme Velho não costumam ter — e nem foram escritas para ter (não estou criticando, que fique bem claro!): o que eles têm é uma clara ligação com o transcendente.
Insisto que não é uma competição de quem é melhor: a escrita de Machado de Assis e a de Guimarães Rosa são muito diferentes entre si. Embora elas revelem uma certa erudição dos autores, e comprovem que tanto um quanto o outro, ao escrever sobre o local, foram universais, uma oferece um pensamento cético e irônico, traçado elegantemente; a outra envereda por linhas tortuosas — uma prosa poética e inventiva que não fala só do mundo natural, mas além dele também.