Das coisas curiosas que acontecem no Brasil, destaco esta: tentar rotular as alas da atual polarização em que vivemos com nomes, ouso dizer, engraçados. Os liberais (no sentido clássico do termo) e os conservadores seriam a direita, e portanto, os coxinhas; já os integrantes da esquerda, liberais no sentido norte-americano e progressistas, seriam os mortadelas.
Por que acho essas denominações curiosas? Porque são apelidos baseados no que as pessoas consomem, como se dissessem: “Você é o que você come”. Pelo folclore urbano, o quitute preferido por policias é a coxinha, e por extensão de sentido, todos que valorizam a ordem e bons costumes também são “coxinhas”. Por outro lado, também é de senso comum que os manifestantes de esquerda recebem pão com mortadela quando participam de algum protesto. Daí sua denominação.
Peço licença para sair pela tangente e voltar à pergunta inicial, explícita no título, adiante. Sou católico. Pelo meu entendimento, se para o cristão sua crença é o fundamento de suas ações, por vezes ele será tachado de conservador, ou até mesmo reacionário; em outras, de esquerdista e revolucionário. Faz parte do cristianismo seus paradoxos, muito bem notados pelo escritor e jornalista inglês G. K. Chesterton. Otto Maria Carpeaux, também jornalista e crítico literário austríaco radicado no Brasil, escreveu algo que exemplifica bem meu ponto de vista: “Não há nada mais revolucionário no mundo do que uma tradição esquecida e ressuscitada.” Essa frase pode ser facilmente relacionada ao cristianismo.
Volto à questão inicial. Poderiam me chamar de coxinha ou mortadela, a depender do tema ou do interlocutor da vez ao examinar minhas opiniões e atitudes. Esses rótulos não me preocupam mais. São apenas simplificações grosseiras (no sentido de toscas e imperfeitas). O que vou deixar claro é o seguinte: com relação ao meu favoritismo alimentar, gosto de coxinha, mas prefiro, sem sombra de dúvida, um bom pão com mortadela. Ainda não fui ao Mercadão para comer o tão famoso sanduíche, mas sempre que posso (na verdade, não deveria) — geralmente a contragosto da minha esposa, preocupada com minha saúde — delicio-me com este lanche que, se para alguns é coisa de pobre, para mim é uma verdadeira iguaria divina.