Conversa patrística

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Foto por Robin McPherson em Pexels.com

Em um dia que não me recordo exatamente qual foi, flagrei o seguinte diálogo entre um católico e um protestante, ambos sentados num banco de praça:

— Considero Agostinho um bom exemplo de conversão à fé cristã.

— Santo Agostinho!

— Como é?

— Santo Agostinho; não só Agostinho.

— Mas já vai começar? Santo só Jesus. Vocês, católicos, e essa mania de criar santo a torno e a direito.

— Não somos nós que os criamos. Deus é quem tem seus escolhidos. São santos porque mesmo em vida já estavam mais próximos Dele.

— Permita-me discordar. Onde está escrito nas Escrituras que pode haver mais de um santo? Já disse: santo é só nosso Senhor, Jesus Cristo.

— O conhecimento humano sobre o Divino não vem só do que está escrito. Ler a Bíblia Sagrada é uma forma de conhecer Deus? Claro, mas não a única e exclusiva. A tradição também temo seu papel.

A disputa ainda durou um bom quarto de hora. Discutiram e discordaram sobre a importância da Fé, das Obras e da Graça na Salvação. Enquanto se embatiam, nenhum dos dois chegou a perceber a mulher que estava ao lado deles, a pedir-lhes um socorro, uma esmola. Estava desempregada e ainda por cima tinha um filho pequeno machucado em casa. Um passante, ao ver a cena, parou, trocou algumas palavras com a mulher e deu-lhe uns trocados. Ela agradeceu, e saiu dizendo:

— Católico, protestante, ortodoxo… que me importa o nome que dão a si mesmos? Na hora do aperto, valeu-me mais esse senhor que me notou. Não sei que fé carrega, mas minha súplica ouviu. Esse sim foi um bom samaritano; foi cristão!

***

Fiquei sabendo, por fonte segura, que nos autos celestes constam todas as boas ações realizados pelo tal católico e o tal protestante em vida. Contudo, também há uma observação em vermelho que será levada em consideração na hora do Juízo Final: “Quando se confrontam, esquecem-se de todo o resto. Querem porque querem provar quem tem mais razão”.

***

Esqueci de contar: o curioso debate ocorreu num banco de praça de uma cidade irlandesa; só não me lembro se foi na Irlanda do Norte ou na República da Irlanda. Não importa, dá no mesmo.

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