
Sentado, sozinho, à mesa de madeira rústica cujo tamanho facilmente poderia acomodar todos que participaram da Santa Ceia, ele admirava a embalagem dourada que segurava com tanto carinho. Era uma barra de chocolate, do mesmo tipo que a mãe lhe dava quando era menino. Agora só tinha a oportunidade de comê-la uma vez por ano, quando seus novos irmãos lhe davam para comemorar seu aniversário.
Na maior parte dos dias, comia apenas uma sopa insossa com um naco de pão no almoço e jantar, assim como bolachas de água e sal com chá nas refeições intermediárias. A barra de chocolate era como um bálsamo anual, só perdendo em importância, em seu coração, para a Páscoa e o Natal.
Ao desembrulhar seu tesouro com delicadeza, lembrou que, mesmo quando criança, ao receber a tão almejada barra de chocolate da mãe, dividia o presente com seus irmãos menores.
Começou a comer o doce, e outras memórias lhe vieram à cabeça, todas relacionas à época de criança. Quando já havia comido mais da metade da barra, veio-lhe uma inquietação. “Algo não está certo”, pensava.
Subitamente, levantou-se e foi chamar dois de seus confrades mais queridos.
— Irmãos, tenho uma proposta a fazer. Que tal dividir comigo o fim da minha barra de chocolate?
— Irmão João, o senhor sabe muito bem que este tipo de alimento só nos é permitido quando completamos anos. Hoje é o seu dia, não o nosso —alertou irmão José.
— Sei quais são as regras, irmãos! Mas para mim ficaria incompleta a comemoração se não pudesse compartilhar convosco minha riqueza.
— Acho que podemos ceder desta vez, irmão José — ponderou irmão Roberto.
Sentaram-se então os três à mesa, e João repartiu o que ainda restava do chocolate. Ao comerem, um olhava para o outro com alegria e timidez. Em meio aos risos contidos, que mesmo assim ecoavam no refeitório do mosteiro, os três conversavam e brincavam como se tivessem voltado no tempo.
Divertiam-se com a doce, inocente e pueril travessura de comer chocolate escondido. Enfim, voltaram a ser garotos.