
Os dois amigos conversavam:
— Como isso? Você tem um filho e até hoje nunca foi vê-lo?
— Nunca, não tive coragem de procurá-lo depois que abandonei a mãe dele. Ele ainda era um bebê na época.
— Que absurdo, Norberto! Que idade ele tem hoje?
— Deve ter uns 13 anos.
— Como eu nunca soube disso?
— Foi só um caso sem importância. Não cheguei a contar pra ninguém na época.
— Que papelão! E agora vai finalmente encontrá-lo e assumi-lo?
— Não, na verdade mudei de ideia e prefiro não o conhecer. Não sei o que me deu quando liguei pra mãe dele e marquei um encontro. Devia estar muito bêbado.
— Isso não se faz! Você criou esperança no menino e agora dá pra trás. E a sua responsabilidade de pai, como fica?
— Sou covarde, confesso. Fazer o quê?
— Fazer o quê?! Ora, já que você é tão medroso, eu vou lá avisar que você não vai mais, é o mínimo. Me dá o endereço!
— Não precisa. Você faria isso por mim, Cláudio?
— Não é por você, seu mau-caráter. É pelo menino.
…
Cláudio chegou ao endereço no fim daquela tarde mesmo. Ao ser recebido na porta, depois de tocada a campainha, foi visto com espanto. A mãe não sabia quem ele era, mas já previa o que ia acontecer. Ela se conteve para não atacar o mensageiro da má notícia. Depois de uns minutos, relutante, deixou o homem entrar.
— Por favor, seja gentil com o Eduardo.
— Não se preocupe, dona…. Irene, certo? Não sou o cafajeste do Norberto.
Quando entrou, viu um menino sentado em sua cadeira de rodas a assistir à televisão na sala.
Os olhares se cruzaram. Eduardo não sabia se sorria ou se ficava sério. Cláudio percebeu ansiedade no menino e, sem saber explicar por que fez o que fez, disse:
— Não me reconhece? Sou eu, seu pai.
O menino então abriu um sorriso, talvez o mais lindo que Cláudio já tinha visto, e correu com sua cadeira em direção ao homem, que se abaixou para abraçá-lo. A mãe olhou ternamente para a cena, e agradeceu com os olhos marejados ao homem que nem conhecia.
A partir daquele dia, Cláudio não fez mais questão de manter contato com o amigo e passou a visitar o menino toda semana. Eduardo finalmente tinha um pai.