Paternidade

Foto por Juan Pablo Serrano Arenas em Pexels.com

Os dois amigos conversavam:

— Como isso? Você tem um filho e até hoje nunca foi vê-lo?

— Nunca, não tive coragem de procurá-lo depois que abandonei a mãe dele. Ele ainda era um bebê na época.

— Que absurdo, Norberto! Que idade ele tem hoje?

— Deve ter uns 13 anos.

— Como eu nunca soube disso?

— Foi só um caso sem importância. Não cheguei a contar pra ninguém na época.

— Que papelão! E agora vai finalmente encontrá-lo e assumi-lo?

— Não, na verdade mudei de ideia e prefiro não o conhecer. Não sei o que me deu quando liguei pra mãe dele e marquei um encontro. Devia estar muito bêbado.

— Isso não se faz! Você criou esperança no menino e agora dá pra trás. E a sua responsabilidade de pai, como fica?

— Sou covarde, confesso. Fazer o quê?

— Fazer o quê?! Ora, já que você é tão medroso, eu vou lá avisar que você não vai mais, é o mínimo. Me dá o endereço!

— Não precisa. Você faria isso por mim, Cláudio?

— Não é por você, seu mau-caráter. É pelo menino.

Cláudio chegou ao endereço no fim daquela tarde mesmo. Ao ser recebido na porta, depois de tocada a campainha, foi visto com espanto. A mãe não sabia quem ele era, mas já previa o que ia acontecer. Ela se conteve para não atacar o mensageiro da má notícia. Depois de uns minutos, relutante, deixou o homem entrar.

— Por favor, seja gentil com o Eduardo.

— Não se preocupe, dona…. Irene, certo? Não sou o cafajeste do Norberto.

Quando entrou, viu um menino sentado em sua cadeira de rodas a assistir à televisão na sala.

Os olhares se cruzaram. Eduardo não sabia se sorria ou se ficava sério. Cláudio percebeu ansiedade no menino e, sem saber explicar por que fez o que fez, disse:

— Não me reconhece? Sou eu, seu pai.

O menino então abriu um sorriso, talvez o mais lindo que Cláudio já tinha visto, e correu com sua cadeira em direção ao homem, que se abaixou para abraçá-lo. A mãe olhou ternamente para a cena, e agradeceu com os olhos marejados ao homem que nem conhecia.

A partir daquele dia, Cláudio não fez mais questão de manter contato com o amigo e passou a visitar o menino toda semana. Eduardo finalmente tinha um pai.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s