
O bar estava cheio. Homens e mulheres bebiam, fumavam e dançavam. O som estava estridentemente alto. Josenilda já estava empapuçada de tanto beber. Mesmo assim, influenciada pelo ambiente, não conseguia parar.
Em um certo momento, todos olharam para a entrada do estabelecimento: era Tião que chegava. Conhecido por ser mal — já tinha matado mais de dez —, era temido na região. O caminho ia sendo aberto à medida em que o matador se dirigia à sua mesa de praxe.
— Desce uma cana aí! — trombeteou, e logo foi atendido.
Costumava sentar-se sempre no mesmo lugar e tomar sua cachaça sozinho.
Quando deu por volta das quatro da manhã, Josenilda, de tanto beber, apagou. Encostada em um pilar, agachada e com as pernas levemente abertas, era alvo de desejo. Tião notou um reboliço entre alguns dos bêbados. Como estava perto deles, ouviu parte da conversa:
— É hoje que eu pego a Josenilda.
— Mas ela está desacordada…
— Melhor ainda!
Um deles ia se aproximando da moça. Tião se levantou prontamente, e disse:
— Nem se atreva, hoje ela é minha!
O homem, contrariado, teve que recuar. Muitos olharam assustados, imaginando que maldades o matador poderia fazer com a mulher já inconsciente. Um ou outro pensou em intervir, mas não teve coragem.
— Vou levá-la pra casa. Alguém se opõe?
Ninguém se opôs.
Tião então pegou Josenilda, encaixou-a nos ombros e saiu com ela. No caminho, podia sentir o calor e a maciez do corpo dela. E já fazia um bom tempo que não se deitava com mulher nenhuma.
Ao chegar em frente à casa da moça, golpeou com o pé a porta e entrou com ela nos braços. Avistou o sofá da sala e a deitou carinhosamente. Avistou uma manta perto e a cobriu, exatamente como a mãe de Tião fazia com ele quando era criança.
Quando já estava quase atravessando a porta para ir embora, ouviu uma voz balbuciando, quase inaudível:
— Obrigada. Deus lhe pague!
Tião então bateu a porta ao sair e foi embora, sem olhar para trás. Já na rua, sentiu os primeiros raios de sol no rosto. O dia já estava amanhecendo.